quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Memória de Alfabetização



  Nasci em 16 de dezembro de 1999, na cidade de Ituberá-BA, sou a quarta filha de 5, por muitos anos fui a caçula, a diferença de idade é de 10 anos e alguns meses do mais novo.A minha família, era bem simples, não passávamos necessidades, mas vivíamos do necessário. Meus pais se saparam alguns anos depois do meu nascimento, por necessidade permaneceram vivendo juntos.

   Meu pai e minha mãe trabalhavam fora, então quando meus irmãos não estavam na escola ajudavam a cuidar de mim, sou oito anos mais nova em relação ao meu irmão mais velho, sete do irmão seguinte e cinco da minha irmã. Minha mãe era cozinheira em um restaurante, ela trabalhava das 5 ás 14 horas, meu pai era fotógrafo, trabalhava em eventos, aniversários, festas, batizados  e etc.

    Quando fiz oito meses minha mãe voltou a trabalhar. Aos dois anos ela me colocou em uma creche, mas só permaneci por um ano já que não consegui me adaptar, chorava demais. Com 4 anos fui para escolinha, ainda chorava bastante, mas agora só nas primeiras semanas (isso ocorreu até a 4ª série), as atividades eram de cobrir as letras e números, as vezes eram com algodão, o lixinho de quando apontamos o lápis, barbante, também desenhávamos e pintávamos, copiávamos nossos nomes diversas vezes. A metodologia utilizada era o sintético, partindo da unidade menor, letra, para maior, a forma que aprendia o alfabeto era através do som, através do método fônico.

   Aos cinco anos, vou morar com minha mãe e minha irmã, no litoral de São Paulo. Como já havia dito, meus pais estavam separados, a casa em que morávamos era construída no terreno dos meus avós paternos (já falecidos), meu pai se negou a sair de casa e minha mãe não tendo condições de morar em outro lugar conosco, permaneceu. Em 2005, ela vai receber uma proposta de trabalho em Praia Grande (Baixada Santista/Litoral de SP). Não consigo me recordar muito bem de como era o relacionamento de ambos (meu pai e minha mãe) no período em que morávamos juntos, mas não tenho nenhuma memória de brigas, pelo contrário lembro-me de almoços em família felizes, mas sei por minha mãe e meus irmão que o clima não era dos melhores. Neste caso minha mãe precisava se mudar e para isso necessitava de um trabalho melhor, então ela resolveu aceitar a proposta e levou eu e minha irmã, deixando meu dois irmãos mais velhos com meu pai.

   Neste período do fundamental I só tenho alguns lapsos de memórias, sendo um pouco difícil especificar a série que ocorreu tal fato. No período de 2005 a 2009 irei ficar em um vai e vem entre São Paulo e Bahia. Não posso afirmar com certeza de que série era, mas acredito que deveria ser logo quando cheguei lá, aos 5 anos, deveria estar no pré. Na Bahia havia aprendido o alfabeto através do método fônico, "que envolve o desenvolvimento da consciência fonológica, imprescindível para que a criança tome consciência da fala como um sistema de sons e compreenda o sistema de escrita como um sistema de representação desses sons"(SOARES,2004). Desta maneira reconhecia as letras através do seu som , fê, mê e etc. Já na PG ( Praia Grande) ensinava-se o nome da letra, efe, eme e assim por diante. Lembro que foi como se tivesse que reaprender o alfabeto, já que eram nomes diferentes e ninguém havia me dito que tem o som e o nome da letra. Por diversas vezes a professora me usava como exemplo “estão vendo classe, ela veio de um lugar diferente por isso ela fala assim, como você chama essa letra mesmo Leila?”.

   Tais acontecimentos se sucederam até, conseguir me adaptar. Também me recordo que não havia aprendido sobre o k,y e w, só depois de aprender as demais letras que iria aprende-lo. Neste período de adaptação a novos métodos, lembro que tinha muita dificuldade na escola e por isso frequentava o reforço, neste período de 2 anos que permaneci nesta escola, tive que frequentá-lo, chegávamos algumas horas antes das aulas para participar. Não me recordo muito bem, mas um acontecimento que me marcou também neste período, era que a professora pedia para os alunos resolverem contas na lousa, e todas as vezes que eu ia para o quadro eu chorava, não sei o motivo, talvez por não conseguir resolver ou ficava nervosa com a exposição, só sei que depois de me deixar alguns minutos lá na frente chorando, ela pedia para que lavasse meu rosto e sentasse.

  Comecei a ler com 7 anos, em minhas memórias, foi algo repentino. Sempre quando eu saia com minha mãe ela perguntava se eu conseguia ler o nome dos estabelecimentos e ia lendo para mim, até que um dia ela perguntou e eu li, foi ai que percebi que era alfabetizada, mas hoje sei que não ocorreu de forma simples assim. Consultando minha mãe, ela falou que a atividade neste período consistia em levava para casa livros de leituras, cobrir letras, caderno de caligrafia, atividades no livro, as atividades com livro de leitura eram feitas perguntas referente à historinha lida em casa. Como tenho poucas recordações tenho dificuldade de identificar o método, mas acredito que mesmo trabalhando bastante com textos, não tenha sido o analítico que parte das unidades maiores e portadoras de sentido – a palavra, a frase, o texto – em direção às unidades menores (método da palavração, método da sentenciação, método global)., acredito que possa ter sido o sintético, silábico que consiste em " unidades menores da língua – os fonemas, as sílabas – em direção às unidades maiores – a palavra, a frase, o texto (método fônico, método silábico), (SOARES,2004)

  Por muitos anos tive dificuldade com o P e o B sempre trocava essas letras na hora da escrita, só fui conseguir resolver esse problema de forma tardia no ensino fundamental II, por auto-policiar.

No final de 2007 voltei para Bahia, onde permaneci até 2009 (do final de 2009 a 2018 permaneci na PG), neste período eu estudei em 2 escolas diferentes, neste período já sabia ler. Tenho mais recordação da 4ª séria, quando estudava na escola paroquial, neste período também fiquei morando com meu pai sem minha mãe. Recordo-me do meu primeiro dia de aula, como de costume, no primeiro dia sempre minha mãe me levava, mas como não estávamos morando juntas (ela estava em São Paulo) meu pai me levou, apesar de estar muito nervosa, e me sentindo insegura, não chorava mais, já estava muito velha para isso. A minha professora era irmã da minha tia (casada com meu tio por parte de pai), neste período eu não era tida como sendo a que tinha grandes dificuldades para aprender, pelo contrário o que me ajudou ter um pouquinho mais de confiança em mim, proporcionando uma experiência muito melhor no fundamental II.

Sei que o foco é na alfabetização, mas um fato importante, no 6° ano em 2010, teve uma disciplina de leitura e produção de texto, era a disciplina amada por todos. O professor fazia a leitura de muitas história para nós e pedia para reescrevermos ou ele começava e devíamos terminar (inventar um final) ou ele só dava um tema e criávamos nossa própria história e depois líamos para toda classe, ele trabalhava diferentes gêneros textuais e era fantástico, porque até aquele momento não tinha sido estimulado, a produção escrita, não desta forma, normalmente eu só recontava/reescrevia aquilo que li. E a sensação de criar algo seu é tão bom, lembro que escrevia páginas e páginas e ficava ansiosa para ler para todos.

  Ao escrever o memorial, fiz uma incessante busca de memórias que a muito tinha esquecido. Através desse resgate, pude fazer uma reflexão desse período. Minha mãe sempre falou da dificuldade que tive para aprender a ler e a escrever e da necessidade da minha ida ao reforço. Neste período eu era muito insegura com minha própria capacidade, me julgando muito inferior aos demais, fazendo uma análise, acredito que talvez quando fui para São Paulo o conhecimento que trazia, a forma que aprendi não por não ter sido valorizado/utiliza e passar por uma readaptação aprender novamente (o que sabia) só que agora de uma nova forma, me fez duvidar de mim, criou um bloqueio.

  Com os conhecimentos que já adquirir me faz refletir, as professoras que tive contato deveriam saber que existe uma variação de métodos na alfabetização e que no meu caso estava aprendendo através do fônico, eu não estava falando diferente ou errado. Como professor devemos ter o conhecimento de que na aprendizagem existe variações, não são todos que irão aprender da mesma forma, do mesmo método e devemos estar sempre atentos nas nossas escolhas pois poderão acarretar sequelas nos nossos alunos.


2 comentários:

  1. Quando você narra sobre sua alfabetização, é necessário fundamentar teoricamente. Por exemplo: quando você coloca " que mesmo trabalhando bastante com textos, não tenha sido o analítico, global, acredito que possa ter sido o sintético, silábico." Explique o que é o método analítico.

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  2. Amiga concordo contigo quando você fala no último parágrafo sobre as professoras e as variações dos métodos na alfabetização, isto é de grande importância para formação do educador.

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